Solidão, eu não escolhi você como companhia.
Rua, noite, frio, fome... Por que eu estou em um lugar como este? Por que estou vivendo deste jeito?
Já vi muitas pessoas acompanhadas, mães com os seus filhos, casais apaixonados, amigos conversando e reunidos em mesas nos mais diversos restaurantes. Observei rapidamente e bem de perto, pois logo, eu seria cruelmente encarada com expressões de nojo e pena diante a minha condição de órfã, moradora de rua, sem nada, sem esperança.
Depois que a estação mais fria havia chegado na cidade, trincando os meus ossos de tanto tremer, decidi que eu deveria partir. Eu nunca quis a solidão como companhia, e mesmo aqui, neste lugar com aglomerados de pessoas, eu me sentia deslocada, solitária.
Corri para a floresta mais densa da região, à procura de algo que correspondesse às minhas emoções, foi quando encontrei uma pequena cabana abandonada, me encolhendo entre as mobílias arruinadas pelo mofo e a poeira, tentando me aquecer, ali já era um começo, onde eu poderia chamar de lar.
As últimas migalhas de pão que haviam em meu bolso acabavam junto com a primeira semana depois que cheguei aqui.
A tempestade de neve dava trégua, quando aproveitei e fui atrás de algo para comer e que rendesse por mais alguns dias, foi quando avistei algo caído no chão. Era grande e coberto de uma pelagem negra, ao me aproximar, percebi que se tratava de um lobo, este estava bem abatido, com alguns ferimentos em seu corpo. Trouxe-o ao meu colo e apoiei sua cabeça em meu ombro, andando o mais rápido possível de volta para casa.
Rapidamente o coloquei no chão e o cobri com o único pedaço de pano que havia ali, depois o envolvi com o braço, ficando próxima a ele, tentando aquecê-lo, já que a friagem só piorava o seu estado. Horas depois, a tempestade retornava com força total, eu não havia conseguido o que comer, e pouco estabilizava o estado de saúde do lobo, foi então que ele despertara.
- Tsc... Ele resmungou, aos poucos, se transformando em um homem, revelando apenas um par de orelhas grandes e peludas de um lobo. Que lugar é esse...?
Logo o soltei e sentei no chão, bem perto daquele ser, quando levei as duas mãos até a boca, espantada. Ele me encarou, confuso, até que se sentou bem na minha frente, e logo, chamou a minha atenção.
- Ei, você. Depois de alguns segundos, levou a mão bem na frente dos meus olhos e estalou os dedos. - Acorde, pode me dizer aonde estou? E quem é você?
- VOCÊ ERA UM LOBO! Berrei, impulsivamente, até cair pra trás e apoiar os cotovelos contra o chão, ainda o encarando. - O que... O que você é?
- Shh... Ele sorriu. - Está tão confusa quanto eu, não é? Ele levou a mão sobre as costelas esquerdas e gemeu baixo, chegando a piscar os olhos e curvar a cabeça. - Bom... Meu nome é Fuyu e eu sou um lobo, mas também, me transformo em humano quando for da minha vontade.
- Está machucado... Assim que ele reclamava de dor, me levantei e fiquei de frente a ele, quando aproximei as mãos do local do ferimento e aos poucos, fiz com que ele arredasse a mão. - Parece ter vindo de uma bala... Alguém atirou em você?
- Eu estou bem, na forma humana, aguento melhor esse tipo de dor. Ele levou a mão sobre a minha e afastou do ferimento, até que voltou a me encarar. - Não se preocupe com isso. Aliás, por que está sozinha neste lugar?
- Eu... Abaixei a cabeça por um tempo e liberei um suspiro, até sentir um aperto no peito quando retornei em si e lembrei da minha real condição. - Vivo sozinha.
- Mas, aqui é um lugar perigoso. Ele franziu a testa por um momento e virou o rosto para o lado, até dobrar uma das pernas e apoiar o cotovelo esquerdo sobre o joelho esquerdo, parecia estar pensativo sobre algo. - Você não me disse o seu nome.
- Desculpe... Eu me chamo Haru. Virei o rosto para o outro lado, tentando não encará-lo por um tempo, até que me peguei aflita diante a presença dele, afinal, foi o mais perto que chegou de uma pessoa sem que fosse repreendida.
- Haru, eu irei protegê-la. Virou o olhar em minha direção, com um semblante sério, determinado. - Não posso te deixar sozinha, além disso... Você me salvou e agora, serei o seu protetor.
- Meu protetor...? Fiquei meio confusa, até que senti meu coração bater um pouco forte, logo coloquei minhas mãos sobre ele, tentando manter a calma. - Ninguém nunca me quis por perto.
- Então agora, você não está mais sozinha.